A DANÇA DO REI: O BALÉ DE CORTE E O PODER DE SOBERANIA EM FOUCAULT
DOI:
https://doi.org/10.15628/holos.2015.2553Palavras-chave:
Michel Foucault, Balé de corte, Poder de soberania, Corpo, SuplícioResumo
No presente artigo teceremos algumas análises acerca do funcionamento do poder de soberania em Foucault e as relações desse poder com o corpo do indivíduo e com o surgimento, no domínio da dança, do balé de corte. O poder de soberania é um poder de obediência por vincular soberano e súdito. Segundo Foucault, esse poder funciona através de rituais e cerimônias (gestos, hábitos, sinais de respeito, brasões etc.) que se inserem no nível mais elementar do corpo social, pois ele se refere a uma série de poderes microscópicos que penetram nos comportamentos cotidianos e nos corpos dos indivíduos. A efetivação do poder de soberania na área da dança aparece no balé de corte que nasceu na França do século XVI. Esse balé era amiúde uma combinação de arte, de política e de entretenimento. Além do papel de passatempo para o monarca e sua comitiva, o balé de corte também tinha a função de ratificar o poder soberano. Ao dançar nos balés, o rei fazia lembrar seu poder de controle da cena social, econômica e política. Consequentemente, havia um domínio do monarca sobre os corpos dos indivíduos de tal modo que quando um indivíduo transgredia uma lei, ele atingia o próprio soberano porque a lei era expressão de sua vontade. Até o século XVIII os corpos dos indivíduos eram a única riqueza acessível que legitimava o poder absoluto do soberano e, portanto, há uma relação do poder de soberania e do suplício como punição. As cerimônias dos suplícios eram um ritual cuja função jurídico-política era de reconstituir a soberania lesada por um instante.
Downloads
Referências
AU, S. Ballet & Modern Dance. London: Thames and Hudson Ldt., 1988.
BOURCIER, P. História da dança no Ocidente. (APPENZELLER, M. Trad.). 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001
CARDIM, L. N. Foucault: a história política do corpo – disciplina e regulamentação. In Corpo. (pp. 127-143). Col. Filosofia frente & verso. São Paulo: Globo, 2009.
CARLÉS, A. A. Historia del ballet y la danza moderna. 2. ed. Madrid: Alianza editorial, 2012.
CHRISTOUT, M-F. Histoire du ballet. 2. ed. Paris: Presses Universitaires de France, 1975.
FARO, A. J. Pequena história da dança. 4. ed. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed, 1998.
FAURE, S. Corps, savoir et pouvoir: sociologie historique du champ choréografique. Presses Universitaires de Lyon, 2001.
FOUCAULT, M. A vida dos homens infames (1977). Trad. RIBEIRO, V. L. A. In: ___. Estratégia, poder-saber. Col. Ditos & Escritos IV. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. p. 203-222.
FOUCAULT, M. Dits et ecrits I (1954-1975). Paris: Gallimard, 2001a.
FOUCAULT, M. Dits et ecrits II (1976-1988). Paris: Gallimard, 2001b.
FOUCAULT, M. Droit de mort et pouvoir sur la vie. In: ___. Histoire de la sexualité I : la vonlonté de savoir. Paris: Gallimard, 1976. p. 175-211.
FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade. Curso no Collège de France (1975-1976). Trad. GALVÃO, M. E. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 22. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2006.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: o nascimento da prisão. Trad. RAMALHETE, R. 35. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
MICHAUT, Pierre. Histoire du ballet. Paris: Presses Universitaires de France, 1945.
MONTEIRO, M. Noverre: cartas sobre a dança. 1. ed. 1. reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: FAPESP, 2006.