O CANGAÇO
É tradicional que, ao estudar o cangaço, as pessoas tenham em mente a ideia restrita de grupos de bandidos que saíam pelo interior do Nordeste em busca de vítimas para seus crimes. É preciso entender que o movimento foi além dessa definição rasa e que sua duração de mais de um século foi marcada por diversos acontecimentos de cunho social e político, que deixaram como legado grandes nomes para a História do Brasil.
Não diferindo da atualidade, durante o século XVIII, o território brasileiro tinha como marca a problemática da concentração fundiária – onde algumas pessoas tinham o poder sobre diversas terras enquanto uma outra parte da população possuía pouco ou quase nada, chegando a passar muita necessidade. Ainda, o país era marcado pela disputa entre os próprios fazendeiros – donos das terras –, que lutavam entre si para obter cada vez mais propriedades e, assim, ascender política e economicamente.

A divisão entre as pessoas que marcaram a história do cangaço no final do século XIX foi dada de forma a demarcar as funções dos "prestadores de serviços", dos homens chamados “satisfatórios” e dos famosos cangaceiros. Os prestadores de serviços eram aqueles homens que desempenhavam funções como matar ou invadir terras em troca de vantagens econômicas, já os satisfatórios eram aqueles que realizavam tarefas a mando dos fazendeiros, enquanto os cangaceiros foram os que partiram para o banditismo a fim de “fazer justiça com as próprias mãos”.
O primeiro cangaceiro conhecido pela história foi José Gomes (apelidado de Cabeleira), que viveu durante o século XVIII e marcou a vida nordestina nas cidades do estado de Pernambuco. O Cabeleira não agia em bando e, aparentemente, não tinha causas sociais como os cangaceiros subsequentes a ele. O primeiro grupo de nômades no cangaço foi o de Jesuíno Brilhante, mas aquele que marcou de fato a história foi o famoso bando de Lampião, conhecido como “O Rei do Cangaço”.

Com o aumento significativo da desigualdade social decorrente da má distribuição de terras no Nordeste Brasileiro, o sentimento de revolta começou a inconformar algumas pessoas que sofriam diretamente com as consequências da situação. Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, foi uma destas pessoas e, dessa forma, passou a ser adepto do chamado “Banditismo Social” do sertão.
Nos anos de 1910, Lampião já praticava ações contra o estado e, alguns anos depois, conseguiu liderar o bando mais conhecido e admirado da história do Cangaço. Sua imagem dúbia causa, ainda, incertezas no momento de estudar o movimento, graças a sua forma de demonstrar a insatisfação que sentia face à condição social vigente. Apesar disso, sua idealização de herói que lutava pelos direitos dos mais pobres contribuiu para a que ele obtivesse grande quantidade de simpatizantes com o movimento. Para os fazendeiros e policiais do período, Lampião e seu bando não passavam de bandidos, ladrões e estupradores. Para outros, no entando, Lampião e seu bando eram a personificação da força do homem nordestino, que, obstinado, não se conforma com as injustiças sociais.
Apesar de ter sua trajetória marcada pela ação de homens, o cangaço contou também com algumas presenças femininas. No ano de 1929, Virgulino cruzou caminho com Maria de Déa – conhecida como Maria Bonita –, que foi sua parceira durante os quase dez anos que se seguiram. Nesse momento, outros homens começaram a encontrar companheiras que os seguissem na trajetória e na vida nômade do sertão.

Foi em 1938, mais especificamente no dia 28 de Julho, que o bando de Lampião foi surpreendido pela força policial do período. O assassinato de 11 cangaceiros e cangaceiras marcou o fim do Banditismo Social sertanejo e, ainda, as cabeças expostas dos mortos anunciou a derrota do grupo. Devido às ameaças e ao fato ocorrido com o Rei do Cangaço, outros bandos desistiram da vida cangaceira e, dessa forma, o movimento tomou fim no interior nordestino.
