A VIDA NO BANDO
CONDUTA
Os cangaceiros seguiam uma regra de conduta própria. Isto quer dizer que eram “donos de si”. Quando queriam se estabelecer em um local diferente, assim o faziam, vivendo de saques e doações. O ex-cangaceiro José Alves de Mato, conhecido na época como “Vinte e Cinco”, afirma em entrevista concedida a Gazeta de Alagoas que não se arrepende de nada que fez, principalmente no tempo de cangaceiro, de cuja época diz ter saudades, “porque ali todo mundo era tratado como igual e todos eram amigos confiáveis. A vida era bastante complicada”, diz com certo ar de tristeza, “mas era muito boa, e se havia momentos de agonia, os momentos de alegria e de prazer eram maiores”.
A ordem consistia em manter o máximo de respeito entre os integrantes do bando, já que estes seriam considerados uma espécie de família. Segundo o mesmo “Vinte e Cinco” supracitado, se tinha uma coisa que Lampião fazia questão de manter, e com rigor, era o absoluto respeito entre todos.
Como é possível notar caso já tenha sido visitada a seção “Os Cangaceiros” deste site, cada integrante possuía um apelido que designasse a sua pessoa. Ao ingressar no movimento, o cangaceiro esquecia seu antigo nome e aceitava de bom grado a sua nova identidade.
ALIMENTAÇÃO
Carne de bode, carneiro, boi, farinha, sal, queijo. Estes eram os alimentos que faziam parte da dieta robusta dos cangaceiros. Tipicamente nordestina, a boa alimentação era necessária para que o bando pudesse exercer suas atividades com vigor e destreza. Os fazendeiros que simpatizam com os integrantes (os chamados “coiteros”, pessoas que ajudaram os cangaceiros com abrigo e comida) ordenavam aos vaqueiros para abastecer os grupos. Do mesmo modo, não faltavam bebidas, mas aquele que as adquiriam era obrigado a experimentá-las antes de serem servidas a Lampião.
A propósito – lembra Vinte e Cinco – Lampião quando passava em lugar que não tinha aguardante ou conhaque, ele deixava dinheiro com alguém para que os produtos fossem comprados. Tinha mais: orientava no sentido de que as bebidas fossem enterradas no quintal da casa, bem arrolhadas, e que um dia retornaria para degustá-las.
Conta-se que certa vez Lampião deixou certo dinheiro com uma mulher para a compra de bebidas e, dias depois, retornou para saboreá-las. Antes de ingeri-las, pediu à mulher que as experimentasse, o que foi recusado por ela. A mulher então confessou que a Polícia a havia obrigado a colocar veneno na aguardente. Depois de perguntar como é que a Polícia soube que a bebida estava enterrada no quintal, mandou que a mulher ficasse nua, saísse correndo e se abraçasse com um pé de mandacaru que estava mais adiante. Vinte e Cinco conta ainda que Lampião tinha uma colher de prata pura que, ao tocar em qualquer bebida ou comida, acusava a presença de qualquer substância estranha.
RELIGIOSIDADE
Diz-se que Lampião era profundamente religioso. Era católico e tinha respeito pelos padres, rezava sempre ao meio-dia, praticava jejum às sextas-feiras e, nas Semanas Santas, não comia carne. Quanto aos cangaceiros, acordavam das 4h30 da manhã às 5 horas, colocavam os joelhos no chão e começavam a rezar.
VESTIMENTA
KIT BÁSICO DO CANGACEIRO
CHAPÉU: De couro ou feltro grosso, com abas largas dobradas;
CARTUCHEIRAS: Eram até 18 quilos de munição;
ARMAS: A principal era o rifle Winchester 44;
CAPANGA: Uma bolsa com remédios, fumo e brilhantina;
LENÇO: Protegia boca e nariz contra a poeira;
ROUPA: Resistente, tinha mangas compridas contra o sol;
ROUPA: Resistente, tinha mangas compridas contra o sol;

Pode-se dizer que uma das características mais marcantes da personalidade do cangaceiro era o orgulho. Em seus trajes, esbanjavam anéis, medalhões, lenços coloridos e os famosos chapéus de couro enfeitados com estrelas e moedas. A estética do cangaço denotava, sobretudo, sua autoconfiança e reafirmação, afinal, o Cangaço foi um fenômeno de insurgência, isto é, de revolta com a configuração social vigente. Esses indivíduos, sequiosos por justiça, tinham a necessidade de fazer transparecer suas obstinações pela causa social através, dentre outras coisas, das vestimentas. O historiador Frederico Pernambucano de Mello detalha a importância de cada peça de vestuário dessa cultura em sua obra “Estrelas de Couro – A Estética do Cangaço”, onde afirma "são criminosos na epiderme e irredentos no mais fundo da carne, carregando por séculos, a ferro e a fogo, o mito primordial brasileiro de uma vida absoluta. Por tudo isso, não é de se estranhar que o cangaço tenha sido uma forma de vida criminal orgulhosa, ostensiva, escancarada. Até mesmo carnavalesca, como no caso do traje, de muito apuro e muitas cores”.
Alguns itens eram essenciais na composição do figurino do bando: o cantil de água fresca, o chapéu com o signo-do-salomão (estrela com seis pontas que simboliza poder e proteção contra os “maus olhados”), as luvas e as alpercatas; estas últimas possuíam correias fundamentais para aqueles que estavam em constante movimento, seja fugindo da polícia (os “macacos”) ou em busca de um novo esconderijo.

"Certa vez Lampião chegou a uma cidade sergipana, entrou em um armazém e aceitou a proposta do dono do local para pesar toda a roupa e equipamentos que ele tinha pelo corpo. Chegou a quase 30 quilos, isto que ele tirou o fuzil e os depósitos [cantis] de água", afirma ainda o historiador Francisco Pernambucano de Mello. Imagem disponível em: https://professoragiannini.wixsite.com/blogdah/blog/a-importncia-esttica-do-cangaco-para-a-memoria-historica-e-cultural-brasileira