UMA LEITURA DECOLONIAL DA EDUCAÇÃO DO CAMPO: APROXIMAÇÕES ENTRE O BEM VIVER E A AGROECOLOGIA
DOI:
https://doi.org/10.15628/geoconexes.2024.16899Palavras-chave:
reciprocidade, ecofeminismo, plurinacionalidade, territorialidade camponesaResumo
No Brasil e América Latina, o campo foi construído como território lutas e confrontos de interesses distintos na ocupação da terra. Demandas invisibilizadas ganharam destaque no século XX, pela necessidade de fazer do campo produtor de mercadorias e commodities. O Estado passa a se preocupar com políticas voltadas para a população campesina, visando atender o mercado. Dentre as políticas, tivemos o atendimento da Educação Rural, que consolidou a aliança: Estado e Mercado. Em contrapartida, com a mobilização social e a crítica da exploração dos territórios campesinos, com a exploração socioeconômica, tentativa de apagamento cultural e a degradação dos ecossistemas, é forjado um projeto de Educação do Campo, com base nas experiências de educação popular. O intuito da discussão é problematizar sobre quais aspectos são incorporados ao debate da Educação do Campo a partir de uma leitura decolonial? A proposta foi desenvolvida com uma perspectiva de pesquisa bibliográfica e sintetizando discussões resultantes da tese de doutoramento em Educação Popular. Encontramos como resultado duas propostas concorrentes do território campesino: uma Política de Educação Rural, alinhada com a perspectiva de desenvolvimento e progresso, que faz do campo um lugar a ser explorado em sua sociobiodiversidade e potencialidade local; e outra proposta, atrelada a luta popular, de construção de uma Educação Popular do Campo, que reconstrói as territorialidades no sentido de valorizar o local, suas dinâmicas e ethos, e propõe uma nova convivialidade mais ética na relação ser humano e ambiente, tendo contribuições das propostas decoloniais do Bem Viver e da Agroecologia.
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